Daqui do banco de trás
vejo o pescoço dele
pelo espaço entre o banco
e o escosto de cabeça.
Vejo o pescoço e um pouco
do cabelo dele.
Os rapazes seguem me dizendo
muitas coisas sobre a cidade.
Parte histórica, mal iluminada,
casarões, grafite,
o puteiro recorrente.
Mas daqui do banco de trás
eu só vejo o pescoço dele,
iluminado pela luz amarela
dos poucos postes.
Eles me explicam coisas
que eu ouço
enquanto só posso pensar
que eu queria muito encostar
meus dedos no pescoço dele
e alcançar os cabelos
assim, mansinho, baixinho.
O outro dirige macio
pelas ruas. Eles me explicam
que tudo isto já foi
muito mais bonito.
Eu, ouvindo-os, com meus pés no banco,
só consigo imaginar meus dedos tocando
o pescoço dele.
Coloco minhas mãos
no banco da frente,
tão perto.
Mexo meus dedos, ensaio um toque sutil,
e pensar na pele dele faz eu lembrar
o cheiro que ela tem.
Ele muda o cd,
e eu encerro minha carícia no banco do carro.
Mais algumas voltas, algumas ruas
e mais tarde eu tocarei
outro pescoço e outro cabelo.
Luciana Mutti
2 comentários:
eu hein, acredito ter entendido o contexto, mas é MUITO paradoxal! Ps. Sou um romântico!
É uma onda unica, me senti na pele, acredito que já escrevi algo com o mesmo sentimento (morte na praia)
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